quarta-feira, 29 de julho de 2015

Meio- dia, Teresina

E como doía o encontro no meio- dia! E isso era hora?
Doía , pois o sol encostava no teto da nuvem  e no dorso seco  da pele, nada meio de leve... Queimava tudo da beira ao centro, a luz num forte laranja de cego ,e os corpos cheirando a fuligem -Um sol estrelado sem alma, esparramado e de cactos emplastrado, numa cidade forte entre rios.

Paciência

Eu queria as certezas que aquietam a alma, as resoluções findas, os frutos maduros. Um tantinho da paciência da lua e do sol,  da insistência das horas,  olhar devagar dos mais velhos. Preciso de menos pressa, de menos retas, mais curvas, preciso  de que o mundo até se acabe, e que ninguém morra por isso.

Tudo para Confundir

 Na realidade, sou escrava de toda espécie de beleza, se até  mesmo a feiura disforme me encanta, pois é criação premeditada - tudo para confundir o olhar dos homens e provocar o seu espírito. 

A Cadeira Verde

O fato é que o tempo,  aquele que faz novos dias e noites, não poupou sequer o menino Renato. Ele gostava de se balançar na sua cadeira rústica de madeira, pintada de verde, com poucas frestas laterais, balbuciando um acalanto ... Mas quando tentou correr atrás do seu bubu, ficou entalado na cadeira. Não conseguia sair, começava a suar de agonia, resmungou alto, mas a mamãe chegou a tempo e o retirou com delicadeza...
 No outro dia, ganhou um carro verde espaçoso, cheiroso, cheio de um sintético plástico e de botões barulhentos e coloridos, fora umas alavancas secretas... Mas Renato pensou- "Como me balançarei? "Resolveu acelerar e frear quase que simultaneamente, vivia de sacudidas e gritinhos histéricos, mas ainda musicais.
É, estava crescendo; até a cadeirinha do menino assistia , incrédula, à sua transformação- O relógio do celular  adora transformar crianças em homens e mulheres; mulheres e homens, em velhinhos ...
Só lembrando vocês que Dona Rosa doou até alguns brinquedos  semana passada, porém a cadeirinha continua em casa. Ela prometeu que esta serviria aos seus netos...
O tempo continuou brincando de pega-pega, e o final vocês já sabem- Todos os filhos de Renato abandonaram a cadeira por um carrinho, jogo ou por uma boneca nova, mas tudo bem... O importante é que a cadeira continua lá e, por sinal, bem verdinha... Parecia que a danada tinha nascido ontem!  

Melancia (conto infantil)

Aquela melancia vermelha, gelada e tão doce, só o meu pai sabia escolher. Eu não sei se  era pela aura da infância naquelas manhãs azuis, mas papai era  uma espécie de agricultor mágico. E todas as melhores frutas chegavam à nossa casa com o gosto exato para aquela ocasião. Talvez fosse amor demais, ou até a fome assanhada de meninos lépidos. Lembrei! E como a barriga roncava! Diziam que era muita lombriga lá dentrão... Eca! E nem me diga mais nada, não! Senão, a melancia ficará ainda mais  vermelha de vergonha, e o papai mandará todo mundo calçar os chinelos e tomar remédio para verme...