domingo, 12 de julho de 2020

Perguntas



Na vida, há muito mais perguntas , daquelas que nem o eco responde. E, nem assim, a beleza do caminho é abafada.

Lua em Júpiter


Enxugou o rosto e se olhou  tão desvairada, deslavada, agressiva.

Enrustida, achou  melhor não ser mais ninguém-  Talvez até uma coisa ou mulher efêmera,  obra de desastre, tragédia iminente, fazendo  suspense numa noite de Lua em Júpiter.

Mentiu tão ensimesmada,  virou atriz de quinta, sentada  no bar da esquina feito senhora da contramão,. Então, sem  sem mais nem menos, ela lhe desobedece mais uma vez  e culpas as luas. 

Devora-me



A arte nos devora. O alheio, de repente, mostra o seu mundo e torna-se nosso, é contratransferência e impulso de vida.


sábado, 11 de julho de 2020

Desejar



Desejo a nós um amor espalmado de véu de noiva, o sorriso dos tontos,
a vida placentária germinando, o reinício em cada pó das estrelas. 

sábado, 9 de maio de 2020

Eu tenho tempo...


Eu tempo um tempo desfiado de escadas e etapas , porque minha prioridade é ter tempo para o impensável - e eu sei que tenho este luxo.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O canto da esquina

Naquela mesma esquina, o ângulo exato de um canto, a sombra de uma nuvem, um cão branco sonolento. Parecia mais um cenário premeditado com uma rua cheia de seixos e pontos de vista, o velho da tarde jogando baralho, tomando café, ignorando as horas... E a vida fluía quase sem pressa, bastava olhar no canto agudo daquela esquina esquecida e despretensiosa. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A pianista


A sala estremecia de forma suntuosa com o som do piano. Este era seu confessor, aguentando, inclusive, os piores supetões conforme a emoção daquela mulher. Parecia mais um conto comum do século XIX...

 De vez em quando, o corpo esguio daquela senhora retraída adormecia sobre a madeira escura nobre e umas raras teclas. Geralmente, tudo terminava num sonho agitado com risos distraídos ou lágrimas concomitantes. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A esquina de Ruth

Aquela esquina era tão bonita de se ver! Tinha uma amendoeira encurvada com uma sombra impassível, uma menina com uma boneca riscada, não por acidente, e um cão branco sonolento. 


No céu, uma pipa multicor distante, as nuvens serrilhavam o firmamento, mas a esquina continuava definindo as ruas e a infância de Ruth. Esta conversava com a árvore, com as sombras, com os pedregulhos do calçamento e não tinha medo de besouros ou formigas. Aquela esquina abraçava a sua casa que parecia azulada ao anoitecer, um caixote de concreto cheio de estrelas no telhado e as mãos grandes do pai, assim como o risco do riso: "Saiu, enfim, da calçada"? 


"Sim, papai, mas aquele canto é meu"! Retrucou a menina lépida e decidida de cinco anos, deixando sua boneca para lá dormir, feito vigia de um lugar mágico, encostada na amendoeira cheia de besouros brilhantes. 

Era preciso parar ...





Eu me reconforto com gritos e risos das crianças no recreio. Aquilo refrescava a minha alma numa tarde azul de calor. Aquela tarde era mesmo demorada, os olhos mereciam reparar mais no lírio bem no canto do muro, na ausência de nuvens e no amor que assomava no peito. Eu só estava feliz de ver as infâncias, de acompanhar minha velhice, amigos enrugados, admirar a paz de espírito de uma grama verde.

Era preciso parar aquele dia- as infâncias, as crianças, os velhos, a grama, o lírio. Mas o relógio de parede do colégio continuava girando, assim como meus pensamentos e as melhores cirandas. 

E tudo se fez belo e encaixado,  justamente porque tinha uma determinada hora para terminar, a hora de um segundo derradeiro, onde toda beleza se encerra, onde as pequenas mortes são anunciadas...